sexta-feira, 7 de março de 2008

O nascimento da Filosofia


O objetivo deste trabalho visa percorrer uma panorâmica do nascimento da filosofia, mostrando aspectos relevantes aos períodos de sua formação, bem como apontando a preocupação do homem em querer responder suas indagações sobre o sentido do mundo.
É bastante difundida entre nós a idéia de que herdamos muitas coisas dos gregos. Dentre todas as contribuições gregas para a contemporaneidade há uma que se pode ressaltar: a filosofia. Esta palavra de origem grega significa amor, amizade (“philia”) pela sabedoria (“sophia”). A filosofia não surgiu simplesmente da mente brilhante de alguns sábios antigos, pelo contrário, ela é o resultado de todo um processo histórico-social que se desenvolveu no contexto econômico e político das cidades gregas antigas, chamadas de “pólis”.
Com a ciência histórica é possível afirmar que os primeiros habitantes da Hélade eram os povos nômades e guerreiros, que deixaram o norte da Europa e Ásia há aproximadamente 2000 anos a.C. e se fixaram na península balcânica. Dentre eles estavam os Aqueus, Jônios, Eólios e Dórios, que chegaram na região em busca de terras férteis em sucessivas ondas migratórias. Assim, ali se integraram aos povos já residentes ou os conquistaram. A partir de 1500 a.C., surgem pequenos reinos, núcleos urbanos independentes, organizados ao redor de grandes palácios fortificados. Das fontes históricas que relatam a origem dos gregos tem-se a Ïlíada e a Odisséia, duas epopéias atribuídas ao poeta Homero, o primeiro falando do conflito dos gregos com os troianos e o segundo versando sobre as aventuras de Ulisses para voltar à sua casa. Antes do nascimento da filosofia, os poetas tinham importância extraordinária na educação espiritual do homem grego. O desejo de formar e educar, o cuidado daquele que os gregos denomivam de “paideia”. Na Grécia homérica, a educação dos jovens foi a grande preocupação da classe dos nobres, daqueles que possuem o aretê, isto é, a existência necessária pela nobrezas de sangue, que se tornará, mais tarde, com os filósofos, a virtude, isto é, a nobreza da alma. Os adultos passam a educação no grupo social. Os poemas homéricos apresentam algumas peculiaridades que os diferenciam de poemas que se encontram na origem da civilização de outros povos, pois já contêm algumas das características essenciais para a criação da filosofia. Assim, Homero, ainda de forma mítica, procura apresentar a realidade em sua inteireza mostrando as causas e razões dessa realidade. Hesíodo com sua “Teogonia”, também foi muito importante para os gregos, pois relata o nascimento de todos os deuses. Ele faz uma explicação mítico-poética da gênese do universo e dos fenômenos cósmicos. Esse poema abriu o caminho para a posterior cosmologia filosófica, que, ao invés de usar a fantasia, buscará com a razão o “princípio primeiro” do qual tudo gerou. O mito era usado pela comunidade humana primitiva como elemento de explicação do mundo, que através de magia, ritual mágico traduziria a vontade dos deuses. Contudo, a filosofia dos gregos vai nascer da recusa de explicar o mundo somente pelo uso do mito. Os gregos, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foram reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa explicação inteiramente nova e diferente. Assim a filosofia incorpora o mito e dá um tratamento racional.
Alguns aspectos foram fundamentais para o surgimento da filosofia na Grécia no final do século VII e início do século VI a.C.. Nesse período a Grécia sofreu transformações sociais, políticas e geográficas consideráveis. Ela deixou de ser país predominantemente agrícola, desenvolvendo de forma crescente o comércio e o artesanato. As cidades tornaram-se florescentes centros comerciais, acarretando forte crescimento demográfico. O novo segmento de comerciantes e artesãos alcançou notável força econômica que se opôs à concentração do poder político, que estava nas mãos da nobreza fundiária. Portanto, com a luta que os gregos empreenderam para transformar as velhas formas aristocráticas de governo em novas formas republicanas, nasceram as condições, o senso e o amor da liberdade. O surgimento da escrita foi a causa mais determinante para o nascimento da filosofia, traduzir na palavra o significado do pensamento. É importante destacar que a navegação comercial só possibilitou o desenvolvimento econômico, mas também, o contato com civilizações orientais, como é o caso dos egípcios, dos persas, dos babilônios, dos assírios e dos caldeus, das quais retiram elementos para forjarem sua própria cultura. Além dos itens, já citados, a moeda, lei escrita, “polis” e situação geográfica também contribuíram para o desenvolvimento da filosofia. Mas, para o surgimento decisivo da mesma foi imprescindível a inexistência de dogmas, casta sacerdotal e livro sagrado. Percebe-se, então nesse contexto que a falta de uma Teologia, abriu brechas para o despertar da curiosidade sobre a verdadeira natureza das coisas e para a procura de respostas às questões sobre o mundo e a vida.
Nesse ambiente de grandes avanços e transformações no modo de vida urbano, surgiram questões para as quais as explicações mitológicas pareciam cada vez mais insuficientes. É nesse contexto, que a atividade filosófica surge, enquanto abordagem racional, se expressando inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à mitologia e à religião.
Esse período da história grega ficou conhecido como filósofos pré-socráticos. Esses filósofos da natureza propõem uma teoria da origem do mundo, do homem da cidade. Alguns vão explicar o mundo apelando para uma arqué, ou seja, o elemento constitutivo básico da qual a totalidade do universo seria constituída. A grande preocupação deles é que haja um princípio ordenador, que de ordem ao universo. Esses filósofos são chamados fisiólogos, pois buscam explicar a fisis, a natureza material. Assim, para Anaxágoras, o elemento primordial são as sementes que se encontram misturadas no caos e são em seguida, ordenadas pela Inteligência formando cosmos. Já para Anaximandro, esse princípio é o infinito; para Anaxímenes, é o ar; para Tales de Mileto, a água; para Heraclito, o fogo; para Parmênides, é o ser; para Empédocles, são quatro elementos em combinação: a terra, a água, o ar e o fogo; para Demócrito, era o átomo; e para Pitágoras era o número.
Para tanto, existe outro grupo de filósofos, pré-socráticos, cuja preocupação está mais voltada para a vida dos homens. São os sofistas, assim chamados, porque eram professores ambulantes da retórica e oratória e foram acusados por estarem mais preocupados em convencer pela persuasão, do que mostrar a verdade através de uma demonstração rigorosa do mesmo. Entre o sofistas se destacaram Górgias e Protágoras. Esse último entendia ser o homem a medida de todas as coisas, para ele tudo é relativo, não existe verdades e nem valores morais absolutos.
No final do século V e todo século IV a.C. haverá um período mais antropológico, quando a filosofia investiga as questões humanas (a ética, a política e as técnicas). Seus representantes são Sócrates, Platão e Aristóteles que retomam as preocupações de seus antecessores, criticando severamente os sofistas. Esses filósofos são os primeiros a criarem sistemas mais completos de filosofia, instaurando-a como metafísica, fornecendo os alicerces de toda a tradição filosófica do ocidente, contudo os romanos entram em cena e a filosofia grega se expõem a um mundo cosmopolita, período conhecido como helenismo. Porém nesse processo de expansão, a filosofia acaba de dissipando em pequenas escolas (estoicismo, epicurismo, ceticismo) perdendo a força de grandes sínteses. Enfim é nesse contexto helenístico, que a filosofia vai se encontrar com o Cristianismo.
Pode-se observar que os gregos acrescentaram uma nova dimensão ao pensamento humano. Para isso a filosofia teve que forjar para si uma linguagem, elaborar seus conceitos, edificar uma lógica, construir sua própria racionalidade.
REFERÊNCIAS
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 7 edição. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil S.A, 1992.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992.
CHALITA, Gabriel.Vivendo a filosofia: São Paulo: Ática, 2005.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia pagã e antiga.Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi gisele passei no seu blog para responder uma questão da prova da minha faculdade sobre o nascimento e desenvolvimento da filosofia ate o periodo helenistico. acho que o texto atual ja vai me abrir um pouco a mente.

depois eu vou correr atras de uma perspectiva historica sobre a felicidade desde o periodo cosmologico, antropologico e helenistico, relacionando com o comteporaneo. a professora passou um video sobre epicuro (VIDA SIMPLES)e relacionar com a atualidade! se puder me ajudar sobre qual assunto eu não posso deixa de falar, eu agradeço. bjus.
gustavo
gpires888@hotmail.com