sexta-feira, 28 de março de 2008

Terapia: velar por si próprio


O texto “Os filósofos, os terapeutas e a cura” de Daniel Omar Perez licenciado em filosofia pela Universidad Nacional de Rosário (Argentina), mestre e doutor em filosofia pela Unicamp. Atualmente é professor no programa de Mestrado em Filosofia da PUC PR e realiza sua formação de analista na biblioteca freudiana de Curitiba.
O objetivo do texto é apresentar os temas da filosofia que levem a uma terapia, essa conduz a um “velar de si”. Tal itinerário foi traçado pela filosofia durante toda sua história, que ora tende a uma ascensão do ser e ora sucumbe o ser para chegar às respostas de suas dores, angústias, medos e loucuras. O homem é e deve ser seu próprio terapeuta, mas ele também necessita do outro para expor e confrontar com sua parte emocional, cognitiva e racional, porque é mais fácil quando vivemos numa redoma fechada, onde eu não deixo entrar nada e na mesma proporção, não sai nada.
Construir uma filosofia terapêutica não foi um ato simplório, mas uma atitude de superação que por sua vez fez com que novos conceitos fossem criados, ou melhor, novos campos de saberes: a medicina (hipocráticos), matemática, a vida dos cínicos, a vida do homem na natureza e a vida contemplativa.
Atravessar o abismo da dor exige com que o ser se confronte consigo mesmo a partir do outro, pois o outro revela nossos valores, nossos limites, nosso ser e também nos ajuda no processo de auto conhecer-se. É o mesmo confronto que vai criar um autoconhecimento que é o caminho para a qualidade do corpo e da alma.
Por fim, a argumentação do texto nos levou a concluir que a filosofia contribuiu e contribui muito para os avanços da cura. Uma questão que só pode ser resolvida num contexto social que une o ser com a realidade.

De Curitiba para o Mundo....

Logus Produções

Diretor: Raphael Eduardo Correa da Silva

Roteiristas: Renata Vetroni Barros
Filmagem: Thiago Palmeira Machado
Produção: Gisele Noguchi
Trilha Sonora: Geovana Alves de Freitas

Título do Filme: “O ser em busca da cura dos males que o assolam”

O filme será abordado em cinco blocos de dez minutos cada.

1º Tema: A abordagem do homem na América Latina
Ø Contexto Histórico;
Ø Perspectiva do homem Latino Americano na visão de Dussel, Kant, Hanna Aredent...
Propostas de entrevistas: Frei Carlos Mesters e a Antropóloga Sonia Lira.

2º Tema: Os mecanismos de defesa do ser humano
Ø Percorreremos o homem desde a sua normalidade até no seu estado de desordem, com o enfoque na doença bipolar (maníaco depressivo)
Propostas de entrevistas: Adalto Chitolina e Clóvis Amorim.

3º Tema: O ser humano e o cuidado de si
Ø Diante das doenças que afetam o ser humano, tentaremos mostrar que há cura, através do contato consigo mesmo e com o outro.
Proposta de entrevista: Professor César Candiotto.

4º Tema: As bases psicológicas da emoção
Ø Será abordada a emoção dentro dos escritos de Baruc Spinoza.
Propostas de entrevista: Vicente Gomes Melo Filho

5º Tema: Uma proposta de cura
Ø Faremos uma simulação de uma terapia em grupo e também algumas entrevistas com o público em geral. Utilizaremos os escritos de Emanuel Lévinas.

Proposta do caderno de atividades: Faremos para o público jovem de Ensino Médio a Universitário e também às pessoas interessadas na questão da cura através das bases filosóficas. A partir de cada tema, faremos um texto fundamentando em alguns filósofos (Spinoza, Kant, Dussel, Hanna Aredent). No final de cada texto colocaremos sugestões de leitura, filmes e alguns questionamentos para as pessoas tirarem as suas próprias conclusões.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Resenha do texto : Considerações acerca do Estudo Filosófico

Porta, Mário González: Professor do PPG em Filosofia da PUC/SP.
Considerações acerca do Estudo Filosófico

Gisele de Goes Fontes Noguchi


No texto "Considerações acerca do Estudo Filosófico", o autor considera que a base essencial da filosofia são os problemas filosóficos, pois considera que esses são a condição mínima para haver discurso filosófico. De modo geral, Porta afirma que a Filosofia é vista pelos não filósofos e o público de forma negativa e de maneira muito superficial. Esses alegam que os filósofos dizem o que querem e que a própria filosofia é vista como o campo da arbitrariedade, muitas vezes considerando-na imcompreensível.
Portanto, o autor demonstra que a dificuldade para a compreensão da filosofia se encontra no fato de não se aperceberem dos problemas das quais ela trata. E é por essa razão que para os não filósofos dá-se a impressão da arbitrariedade na Filosofia. Entretanto, ele considera de extrema importância entender um autor, pois assim será capaz de ver na sua filosofia a solução do seu problema. Contudo, neste ponto Porta revela que a consideração do problema, permite-nos ver na história do pensamento filosófico uma unidade dinâmica e com certa direção, pois o que nos interessa no estudo da filosofia não é saber o que os filósofos dizem, mas entender o que dizem como solução a problemas bem definidos. Assim sendo, o modo filosófico de pensar não é um discurso descritivo, pois o mesmo degrada o ensino e o direciona à mera reunião de informações.
Mário Porta, deixa bem claro que o momento fundamental do trabalho filosófico é a construção do problema filosófico, e essa construção consiste em formular uma pergunta adequada. A definição do problema é um elemento essencial para determinar o sentido da tese, ou seja, a resposta do problema. No entanto, o que legitima a tese são os argumentos que também possuem um papel imprescindível. O autor afirma ainda e com muita convicção "que a filosofia é consumação plena da racionalidade", ou seja, é um discurso esclarecedor, intersubjetivo e reflexivo. Para tanto, o filósofo pensa com mais clareza e sua originalidade é a assimilação do trabalho intelectual socialmente acumulado. Portanto, Mário Porta considera que é essencial e necessário a fixação do problema para a orientação no estudo da filosofia e cujas raízes estão na própria natureza do que a filosofia seja. Para tanto, a parte principal do pensar filosófico é a identificação de supostos e a sua explicitação, dando assim um impulso na filosofia.






Artigo- A hipertrofia da esfera privada e as consequências na degradação da política






Gisele de Góes Fontes Noguchi

O presente artigo tem como objetivo a abordagem da dicotomia público e privado presente no Ocidente desde a Antiguidade e as conseqüências que isso trará na degradação da política segundo o pensamento de Hanna Arendt. Para a filósofa a causa de todos os males que afligem a política, é, talvez, a descrença total na liberdade e na capacidade humana de pensar e agir em busca do bem comum. Para ela , a política surge não no homem, mas sim, entre os homens, o que faz da natalidade uma ação inata, ou seja, a capacidade de iniciar algo novo. Dessa forma, o agir e o pensar é a resposta do homem à condição da natalidade e o meio de resgatar a dignidade da política.

Palavras–chaves: Público; Privado; Social; Política; Ação; Discurso.

INTRODUÇÃO



A filosofia de Hanna Arendt (Hannover,1906-1975) nasce de sua paixão pela sabedoria, pelo mundo grego e de sua experiência sofrida no nazismo. É a partir do evento totalitário que a autora constrói toda a sua teoria da ação política, buscando erigir limites para o espaço político de forma a evitar que um evento semelhante aconteça novamente. Essas características originárias nos ajudam a compreender os aspectos da teoria dessa pensadora política. Suas reflexões profundas a cerca do ser humano - de sua singularidade e pluralidade, do mundo, da terra e do viver juntos - em muitos aspectos chegam a beirar à poesia, ao mesmo tempo em que suas duras críticas à modernidade, à denúncia corajosa da valorização econômica e à negação da vida, a ousadia em apontar a alienação dos intelectuais da esfera política e a sobriedade com que expõe a degradação em que se encontra a política, a aproxima daqueles personagens, cujo papel apocalíptico nunca foi bem quisto. Arendt afirma que a causa de todos os males que afligem a política é a descrença total na liberdade e na capacidade humana de pensar e agir em busca do bem comum. Ela denuncia o isolamento e o desenraizamento como acontecimentos que degradam o ser humano, pois o coloca para fora da cidade, tornando-o um ser apolítico. Dessa forma, recuperar a origem democrática da política é tarefa que exige pensar e repensar a política de forma plural. Por fim, a maior contribuição que Arendt pôde dar ao mundo, consiste no original resgate da dignidade da vida pública e da autêntica política, o que se realiza através da ação e do discurso, do espaço público e da liberdade.
O método que será usado para a elaboração do presente artigo será a abordagem histórica (Método genérico), de Victor Goldschmidt, visando mostrar a dicotomia público e privado desde a antigüidade aos dias atuais e as conseqüências na degradação política.

PÚBLICO E PRIVADO



Para elaborar essa temática, Hanna Arendt resgata a tradição do pensamento político que teve início definido nos ensinamentos de Platão e Aristóteles e afirma que não se pode falar em política, em seus fundamentos, e muito menos detectar as mudanças sofridas nesse campo, sem recorrer às experiências da antigüidade grega e romana. Em seu pensamento, a política é concebida como realidade autônoma, mas que sofreu um brutal rompimento com a tradição e o passado comum provocado pelas transformações de cada época, o que trouxe uma defasagem entre a teoria e a realidade dos fatos. Nos capítulos finais de seu livro, Origens do totalitarismo, Arendt demonstra que a experiência totalitária é antecedida pela crise do próprio espírito humano, marcada pelo desenraizamento do homem e seu conseqüente desligamento com a tradição, entendida como a transmissão de lógica plural, dando-se a ruptura com o pensamento político tradicional do ocidente. Reforçando essa crise, dá-se, na era moderna, a confusão entre o privado e o público. A antiga divisão entre esses espaços se extingue alterando o significado dos dois termos e a sua importância para a vida do cidadão.
Segundo a pensadora, a crise política que se arrasta não é um fenômeno passageiro ou meramente casual, é um produto típico das condições fáticas deste século. E, para que a ação política genuína gere algo novo, Arendt vê necessidade de uma divisão entre os espaços público, privado e social. A preservação dessas esferas, com limites bem claros entre uma e outra, é a principal garantia de que a violência não mais invada a política, pois quando a principal esfera pública é a sociedade, sempre haverá o perigo de que, por meio de formas pervertidas de "agir em conjunto", seja através de pressão ou manobras de pequenos grupos, subam, ao primeiro plano, os que nada sabem e nada podem fazer. E, principalmente, é a manutenção de uma esfera política genuína que garante que o ser humano possa manter sua capacidade de ser livre e gerar o novo (ARENDT, 1981, p.216).
No pensamento grego, a esfera privada é a esfera da casa (oikos), da família e daquilo que é próprio (idion) ao homem. Baseia-se em relações de parentesco como a phratria (irmandade) e a phyle (amizade). Trata-se de um reino de violência em que só o chefe da família exercia o poder despótico sobre os seus subordinados (a sua mulher, filhos e escravos). Não existia qualquer discussão livre e racional. Os homens viviam juntos subordinados por necessidades e carências biológicas (por exemplo: alimentação, alojamento, segurança). A necessidade motivava toda a atividade do lar. O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por serem a isso compelidos por suas necessidades e carências. Era a necessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas no lar (ARENDT,1981, p.39).
Na esfera privada existia a mais pura desigualdade: o chefe da família comandava e os outros membros da família eram comandados, e ele não era limitado por qualquer lei ou justiça. Assegurando a manutenção da ordem doméstica, exercia um poder totalitário sobre a vida e a morte. Nessa esfera o homem encontrava-se privado da mais importante das capacidades: a ação política. O homem só é inteiramente humano se ultrapassasse o domínio instintivo e natural da vida privada.
A esfera pública é a esfera do comum (Koinon) na vida política da polis. Baseia-se no uso da palavra e da persuasão através da arte da Política e da Retórica. Para Aristóteles, a esfera pública era o domínio da vida política, que se exercia através da ação (praxis) e do discurso (lexis). Os cidadãos exerciam a sua vida política participando nos assuntos da polis. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para ascender à vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer coação. Todos são iguais (não há desigualdade de comandar e ser comandado) e todos são livres em expressar as suas opiniões. O poder da palavra através da persuasão substitui a força e a violência da esfera privada. Deixar o lar e a família manifestava a mais importante virtude – a coragem.
No oikos, o homem defendia a sua sobrevivência biológica. Na polis, o homem tinha de ter coragem para arriscar a própria vida libertando-se do servilismo do amor à vida. A vida boa, que Aristóteles identificava com a ação política, significava a libertação do homem face às esferas do animal laborans e do homo faber efetivando-se através da virtude da coragem e da eudaimonia. Ter coragem era a condição para aceder à vida política afirmando uma individualidade discursiva e contrariando a socialização imposta pelas limitações da vida biológica privada. Ser cidadão da polis, pertencer aos poucos que tinham liberdade e igualdade entre si, pressupunha um espírito de luta: cada cidadão procurava demonstrar perante os outros que era o melhor exibindo, através da palavra e da persuasão, os seus feitos singulares, isto é, a polis era o espaço da afirmação e reconhecimento de uma individualidade discursiva.
A igualdade moderna, baseada no conformismo inerente à sociedade e que só é possível porque o comportamento substitui a ação como principal forma de relação humana, difere, em todos os seus aspectos, da igualdade dos tempos antigos, e especialmente da igualdade na cidade-estado grega. Pertencer aos poucos iguais significava ter a permissão de viver entre pares; mas a esfera pública em si, a polis, era permeada de um espírito acirradamente agonístico: cada homem tinha constantemente que se distinguir de todos os outros, demonstrar, através de feitos ou realizações singulares, que era o melhor de todos (ARENDT, 1981, p.51).
Contudo, o conceito antigo de público, enquanto espaço onde os homens se expressavam livremente através de palavras e atos, não encontra uma correspondência direta na era moderna. Hoje, público está muito mais próximo da idéia de social e de coletivo do que da idéia intrinsecamente política atribuída pelos gregos, que excluíam de sua definição tudo o que se relacionasse às necessidades vitais (ARENDT, 1981, p.46). O novo sentido atribuído ao público resultou de um processo lento para o qual contribuiu, como nos lembra Hanna Arendt, o alargamento da esfera do privado, que gradativamente passou a abarcar atividades antes próprias da esfera pública, como por exemplo a elaboração das leis e a administração da justiça. Esse fenômeno iniciou-se provavelmente no final do período romano e atingiu sua plenitude na Idade Média, em função da ampliação do domínio do senhor feudal, muito maior do que o do chefe de família na Antigüidade. A transferência de todas as atividades humanas para o domínio do privado aniquilou a esfera e transformou o sentido anterior de bem comum (ARENDT, 1981, p.44).
Na modernidade, na medida em que a economia deixa de ser um assunto doméstico e começa a ser regida pelo mercado, as relações econômicas passam a ter uma importância pública, exigindo um espaço próprio. A esfera pública, nos moldes do século XVIII, surgirá em decorrência de uma opinião pública que se forma a partir das conversas nos clubes e cafés, de início em torno dos assuntos domésticos e das artes. Aos poucos os negócios públicos e a política se impõem. Inicialmente restrita aos círculos burgueses e intelectuais, a esfera pública estende-se, no século XIX, às massas urbanas, que pressionam no sentido de exigir maior participação nos assuntos de interesse social, tais como ensino gratuito, sufrágio universal etc., imprimindo ao espaço público um caráter mais social. Assim, como na sociedade de classes do século XIX e mais recentemente do século XX com a sociedade de massas, a ação individual de afirmação de uma racionalidade discursiva foi absorvida por uma sociedade unitária, que uniformizou o privado e o público através da supremacia do social.
Contrariamente ao modelo grego de oposição entre o oikos e a polis defendido por Arendt, a política passou a preocupar-se com a esfera privada, ou seja, o social privado adquiriu um estatuto de ação política. A economia, anteriormente ligada ao lar transformou-se em economia política doméstica ao serviço do conformismo privado. A ampliação permanente dessa esfera social, abrangendo atividades antes próprias dos domínios do público e do privado, e a interpenetração desses domínios resultam na dificuldade em estabelecer os limites entre essas duas esferas e na fragilização do público, enquanto espaço reservado aos grandes temas da política (ARENDT, 1981, p.47-48).
Arendt lamenta que atualmente a conduta social da sociedade de massas, no seu esforço de promover o político e o privado a uma uniformização do comportamento consumista, tenha conduzido ao conformismo do social negando a pluralidade da discussão. Na sociedade de massas o homem garante a sua sobrevivência no despotismo de uma única opinião desprovida da discussão racional pela ação política da palavra e da persuasão. Para Arendt, esta situação pode conduzir ao totalitarismo, a destruição da política e da própria humanidade.

A DEGRADAÇÀO DA POLÍTICA



Percebe-se, na época atual, um grande abismo entre o pensar e o agir. Arendt, revela que apesar de todos os outros aspectos da condição humana apresentarem alguma relação com a política, é a ação a única forma de expressão da singularidade individual, pois na ação o homem revela a si mesmo, tornando esta ação a fonte do significado da vida humana. É por meio da linguagem que o homem aparece, torna-se real. Este espaço da aparência começa a existir pela semelhança entre os homens por meio da palavra e ação. Hanna Arendt mostra que esta realidade só nos é garantida pela presença do outro, porque é diante do outro que temos a certeza da realidade do mundo, da vida e de nós mesmos. Em Origens do Totalitarismo, a filósofa diz que não nascemos iguais, tornamo-nos iguais como membros de um grupo por força de nossa decisão de nos garantirmos direitos iguais, o que garante a nossa inserção no mundo. O relacionamento dos homens entre si e destes com o mundo que o circunda, se dá por meio do discurso e da ação, que além de dar origem do próprio fato político que é o espaço da aparência, lhes permite a manifestação física, enquanto homens, e não como meros objetos. Quando não se tem mais esse espaço da aparência, se dá, consequentemente, a degradação da vida na esfera política, por se ter quebrado o elo original de ligação dos homens entre si e com o mundo.
Constata-se então, o momento em que a ação é instrumentalizada e o discurso perde sua essência. Ou seja, as palavras se tornam vazias e empregadas no interesse próprio, e os atos se tornam brutais, usados para violar e destruir. Tanto a ação como o discurso baseiam-se na condição humana da pluralidade. No entanto, enquanto a ação efetiva reunindo os humanos para agir em concerto, o dizer uma palavra possibilita o viver como ser distinto e singular entre iguais. A partir disto alerta-se para o desafio da era moderna que se dá com o abismo entre a ação e o discurso, onde o agir em concerto é substituído por uma justaposição de indivíduos, e a ação criadora é trocada por uma coletânea de atividades pré determinadas que faz o homem passar da condição humana para a condição de escravos da técnica. Porque a palavra é, exatamente, aquilo que torna relevante e significativa a ação:
Dizer uma palavra constitui, assim, uma ação, não apenas porque quase todas as ações políticas são realmente realizadas por meio de palavras, mas também porque o ato de encontrar as palavras adequadas, no momento certo, independentemente da informação ou comunicação que transmitem, constitui uma ação (ARENDT,1981, p.35).
As democracias de massas tão comuns hoje, onde o homem é ninguém ou é apenas mais um, e as propagandas vazias regidas pelo valor econômico, intimamente ligado a partidos, são na reflexão de nossa autora, fatores de degradação do homem, da mesma forma que são o fascismo, as ditaduras militares, a restrição da liberdade, a repressão da espontaneidade humana, a corrupção do poder através da violência e da economia, as guerras e os interesses privados de governos parlamentares.
O modo utilitarista de pensar invade todos os domínios promovendo uma glorificação da mentalidade estratégica que, segundo Arendt, não deve existir na política, porque diante de uma forma utilitarista de pensamento, nada pode conservar uma grandeza intrínseca, pois se é conduzido a esquecer-se do "bem comum", ideal político defendido nos espaços públicos desde a polis grega. A autora busca resgatar o sentido da palavra, pois para ela, a palavra além de sua dimensão de comunicação, no processo de geração de poder, tem também a dimensão de revelação. "É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original" (ARENDT,1981, p.189).
Sermos capazes de pensar e falar sobre aquilo que somos capazes de fazer, é o primeiro passo para a liberdade e o resgate do sentido da política. Pois, na medida em que expressamos o que pensamos sobre tudo o que fazemos, tornamo-nos real, resgatando o espaço da aparência, porque só assim é possível ver, frente a frente, o que estamos verdadeiramente fazendo, gerando um conhecimento e uma reflexão. A recuperação da palavra viva e da ação vivida, como acontece nos movimentos populares que surgem, geralmente em situações, são exemplos que podem iluminar o nosso cenário político. O fato de o homem moderno ter se emancipado da natureza e da história fez com que esses movimentos, junto com seus ideais, ficassem totalmente apagados da memória. Resgatar novamente tais experiências é resgatar também as aspirações do povo e a sua vontade de ação no seio da comunidade política. Porém, essa liberdade não é a liberdade moderna, privada de toda interferência, mas sim a liberdade pública de participação democrática. Porque o debate público existe para lidar com o que é de interesse coletivo e que não deve ser regido pelos rigores apenas do que se pode ou não conhecer, e que, por esse mesmo motivo, não se subordina ao despotismo de uma só verdade, porque a não violência promove o encontro dos homens por meio da palavra.
Assim, nessa perspectiva, a autora enfatiza que para conservar a possibilidade da prática da liberdade, e consequentemente, a valorização da vida, os seres humanos devem preservar o espaço público, campo por excelência da atividade política, o que requer a luta pelo "direito de ter direitos". Só dessa forma, segundo a tradição grega, a polis continua a ser a origem da liberdade e a política torna-se, então, um meio de regenerar a vida, recuperando-se o sentido de "bem comum".

CONSIDERAÇÕES FINAIS



É importante destacar que ação e discurso é o elo entre os homens, pois o relacionamento dos homens entre si, e destes com o mundo que os circunda, se dá por meio do discurso e da ação, que além de dar origem ao próprio fato político, que é o espaço da aparência, lhes permite a manifestação física enquanto homens, e não como meros objetos. Porém, quando acontece a degradação do discurso e da ação, quer dizer, quando não se tem mais esse espaço da aparência, se dá, consequentemente, a degradação da vida na esfera política, por se ter quebrado o elo original de ligação dos homens entre si e destes com o mundo. A esfera política deixa de ser a esfera do político, da ação e da virtude e passa a ser a esfera do comerciante, do trabalho e dos bens fabris, e a própria vocação do zoon politikon se vê dirigida para estes mesmos fins e não mais à busca de ações virtuosas por si mesmas. Ou seja, usada apenas para atingir um fim específico a palavra perde sua característica de revelação.
Pode-se afirmar que o aspecto mais conclusivo e impressionante no pensamento de Hanna Arendt é sem dúvida o político, a preocupação com a res publica e a reflexão sobre o lugar onde a humanidade realmente se situa dentro da mecânica dos fatos políticos. Para ela, a violência na esfera política se extinguirá, a liberdade e a dignidade se firmarão e a democracia acontecerá só e, somente só, quando a sociedade aprender a cuidar da simulação de seus representantes e, por isso, souber discriminá-la e cerceá-la. Para tanto, é preciso sermos capazes de pensar e falar sobre nossas ações políticas, pois a banalidade do mal está relacionada à recusa dos homens em pensar.
Por fim, o entendimento do atual discurso, contribui numa reflexão e tentativa de mostrar os fatores que levaram a degradação da política e ao mesmo tempo apontar o resgate da dignidade da vida pública e da autêntica política, que se realiza através da ação conjunta, do espaço público da liberdade e da capacidade de pensar e agir.

REFERÊNCIAS



ARENDT, H. A Condição Humana. São Paulo: Forense/Salamandra/Edusp, 1981.
_________ O que é Política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
_________ Origens do Totalitarismo: anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
DUARTE, André. Hannah Arendt e a modernidade: esquecimento e redescoberta da política. In: Transpondo o Abismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.

Degradação da política

Artigo jornalístico realizado em sala de aula.

Gisele de Goes Fontes Noguchi


As experiências do horror vividas pela humanidade com os regimes ditatoriais e totalitaristas e, trazendo para mais perto de nós, como o crime organizado, são consequências pelas mudanças e perda de valores sofridos pela necessidade na era moderna e contemporânea, tanto no campo da tradição, como da autoridade e religião. Entre essas mudanças, destaca-se a inversão de papéis: o fazer, torna-se a atividade fundamental e humanizadora do homem. O modo utilitarista de pensar invade todos os domínios promovendo uma glorificação do trabalho, o que significa uma glorificação da mentalidade estratégica e instrumental que não deveria existir na política, porque diante de uma forma utilitarista de pensamento, nada pode conservar uma grandeza intrínseca, pois se é conduzido a esquecer-se do "bem comum", ideal político defendido nos espaços públicos desde a pólis grega, para buscar o ‘bem individual" e privatizado.
Dessa forma, a esfera pública deixa de ser a esfera do político, da ação e da virtude e passa a ser a esfera do comerciante, do trabalho e dos bens fabris, e a própria vocação do "zoon politikon"se vê dirigida para estes mesmos fins e não mais à busca de ações virtuosas por si mesmas. Ou seja, usada apenas para atingir um fim específico, a palavra perde sua característica de revelação.
Para Hanna Arendt (filósofa alemã –1906 a 1975), ação e discurso são o elo entre os homens, pois o relacionamento dos homens entre si e destes com o mundo que os circunda, se dá por meio do discurso e da ação, que além de dar origem ao próprio fato político, que é o espaço da aparência, lhes permite a manifestação física enquanto homens, e não como meros objetos. Porém, quando acontece a degradação do discurso e da ação, quer dizer, se dá consequentemente, a degradação da vida na esfera política, por se ter quebrado o elo original de ligação dos homens entre si e destes com o mundo.
Dá-se, então, o momento em que a ação é instrumentalizada e o discurso perde sua essência. Ou seja, separa-se a ação do discurso, as palavras tornam-se vazias e empregadas no interesse próprio, e os atos se tornam brutais, usados para violar e destruir. O abismo existente entre a ação e o discurso, onde o agir em concerto é substituído por uma justaposição de indivíduos isolados e a ação criadora é trocada por atividades pré-determinadas, nos lança o grande desafio de integrar essas duas capacidades humanas, porque a palavra é, exatamente, aquilo que torna relevante e significativa a ação.
Todos esses fatos formam o quadro de experiências políticas de nosso século. Como verificamos, são raras as experiências positivas na esfera política que a História apresenta. Em contrapartida, são demasiadas e calamitosas as experiências que nos fazem descrer de um sentido da política. Porém, Arendt abre espaço de esperança em suas obras para que todos os aspectos de ação e liberdade, também contidos em seu pensamento, venham à tona a clarear em como melhorar a política atual. Sermos capazes de pensar e falar sobre aquilo que somos capazes de fazer é o primeiro passo para a liberdade e regeneração da vida na esfera política. Pois, na medida em que expressamos o que pensamos sobre o que fazemos, trazemos à realidade, tornamos reais resgatando o espaço da aparência; dessa forma é possível ver, frente a frente, o que verdadeiramente fazemos, gerando um conhecimento e uma reflexão. Assim, para conservar a possibilidade da prática da liberdade, e, consequentemente, a dignidade da vida, os seres humanos devem preservar o espaço público, campo por excelência da atividade política, o que requer a luta pelo direito de ter direito. Só dessa forma, segundo a tradição grega, a pólis continua a ser origem da liberdade e a política torna-se, então, um meio de regenerar a vida, recuperando o sentido de "bem comum".

sábado, 15 de março de 2008

Resenha do Filme "FILHOS DA ESPERANÇA".

Gisele de Goes Fontes Noguchi

Qual o sentido da vida?
Ao perceber a certeza de um mundo futuro o homem moderno foi arremessado para dentro de si. Não no sentido de um homem reflexivo e em busca do sentido da vida, mas preocupado consigo mesmo e totalmente individualizado. O valor do ter sobrepuja o do ser e cresce o materialismo, cujas expressões são o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo.
A qualidade de vida se restringe ao bem estar físico, à economia eficiente, ao consumismo, à beleza e ao prazer. Além disso, os avanços tecnológicos e científicos demonstram que o homem tem uma profunda sede de libertação de suas amarras mortais que o prendem a condição humana. No entanto, o homem acredita que só é capaz de conhecer plenamente aquilo que é possível ser produzido por suas próprias mãos. Só que, talvez não esperasse que o destino pudesse- lhe pregar peças. Sua criação voltou-se contra ele mesmo. Exemplo dessa realidade foi bem testemunhada pelo próprio homem: bomba nuclear e outras tecnologias usadas nas atrocidades das guerras. Todo esse desenvolvimento tecnológico trouxe sequelas jamais vistas pela humanidade. No entanto, o ser humano está deixando de perceber o que há de mais significativo em sua existência. A própria vida.
O filme "Filhos da esperança" retrata bem a realidade de um futuro caótico na qual a humanidade chegou. Mas será que já não estamos plantando as sementes de destruição do nosso planeta? O ser humano está se tornando tão egoísta, pensando somente em si, esquecendo-se do bem comum. No entanto, Kee carregando seu filho nos braços, trazendo novamente a esperança de uma nação, revela que a existência do homem ainda tem sentido. Talvez a vida dessa criança seja o começo de um novo rumo para a humanidade.
O filme nos remete a pensar sobre o sentido da vida. O homem encontra-se sem direção, sem princípios para nortear sua existência, sem tradição que mostre caminhos já percorridos e que o solidifique como homem. O sentido da vida devemos encontrar dentro de nós mesmos, a começar curando nossas dores e angústias. Com a construção de princípios verdadeiros e sólidos dentro de si, consequentemente haverá uma fertilidade espiritual. Devemos resgatar novamente os valores essenciais do ser humano. Para um homem em equilíbrio com sua mente e corpo haverá a possibilidade de pensar no outro, no bem comum de uma nação. Muitas vezes um simples gesto faz a diferença para um novo começo.

sexta-feira, 14 de março de 2008



Antígona
Antígona, obra escrita por Sófocles`(496-405 aC.), é uma seqüência dentre as três obras de Édipo Rei, mostra o fim trágico dos descendentes amaldiçoados de Édipo e Jocasta. Os irmãos Etéocles e Polinice morrem em batalha um contra o outro, a favor e contra Tebas, que passa a ser governado pelo cunhado Creonte.
O novo chefe de Estado manda enterrar honrosamente Etéocles, mas lança uma lei que Polinice não seja velado nem sepultado por ser um traidor de sua pátria. Acontece que Antígona, filha de Édipo e irmã dos falecidos, revela-se contra essa lei, enterra e presta homenagem ao seu irmão, sofrendo assim as conseqüências de seus atos. Esse fato é o eixo mais importante no qual gira a maior parte da peça.
Os gregos da época homérica já davam importância aos ritos fúnebres, pois acreditavam que do repouso do corpo dependeria o repouso da alma. Contudo, o destino prega uma peça ao próprio Creonte, sendo que a condenação de Antígona resultará na morte de seu filho, uma vez que ele estando apaixonado por ela não suportará sua falta e acabará suicidando-se. A arrogância, o poder e a falta de humildade são tão evidentes em Creonte, que acabam por desorientá-lo.
Essa peça pode ser analisada sob duas direções: na primeira, Creonte como um tirano, que se preocupa em satisfazer seus interesses, sobrepuja todas as leis comuns ao povo, valendo apenas a sua própria. Na segunda, Antígona na sua razão de obedecer a lei religiosa e as suas convicções pessoais, e por amar muito seus familiares, faz uma homenagem aos seus parentes mortos. Ou seja, ambos acreditam em suas convicções estejam certas ou não. Enfim, a obra pode ser observada de várias ângulos e permanece atual, pois revela bem as aspirações e conflitos humanos.
Se observarmos na história da humanidade, a figura dos governantes tem um papel fundamental na orientação de um povo. Nesse caso, o tirano é aquele homem , que priva seu povo da liberdade, impondo leis, muitas vezes em seu interesse próprio. Bodin dizia: "a maior diferença entre o rei e o tirano é que o rei se conforma às leis da natureza e o tirano as esmaga; um cultiva a piedade, a justiça e a fé; o outro não tem Deus, fé ou lei".


Gladiador

Direção:Ridley Scott
Elenco: Ressul Crowe, Joaquim Phonix, Richard Harris, Connie Nielsen, Oliver Rees, Derek Jacobi, Ralph Moeller, Spencer Treat Clark.
Roteiro: David Franzoni


O filme retrata o processo de crise do Império Romano, durante o governo do imperador Marco Aurélio quando iniciam-se as invasões bárbaras que irão se estender até a queda de Roma. O rei-filósofo não só admirava os sábios gregos, como ele mesmo era um pensador. Marco Aurélio, uma das grandes figuras da Estoá, era interessado em apontar caminhos que levam a harmonia da alma com o corpo e da razão com a ação.
Os estóicos estruturaram uma idéia de Kosmos, uma sociedade do gênero humano pela qual todos os seres humanos seriam cidadãos do mundo. Assim, percebe-se no filme a sabedoria com que Marco Aurélio conduzia seu reinado, baseando-se na tábua de virtudes, sendo as quatro virtudes principais a sabedoria, a justiça, a firmeza e a temperança.
Num determinado momento Marco Aurélio questiona-se qual foi o propósito de sua vida. De pronto Máximo responde que foi Roma, pois ela é luz do povo. O general lutará por Roma e pela sua família, pois o resto é pó e ar. Contudo, a célula mãe do filme é a família, a qual Máximo zela tanto, e Marco Aurélio interroga a si mesmo se justamente não foi neste momento que ele falhou como pai, ao referir-se a seu filho Cômodo. Esse governou Roma por um período de treze anos, tornando-se uma figura perversa que se deliciava com as lutas de gladiadores. Ao contrário do pai seus valores eram outros: a ambição e a coragem.
Antes de falecer, o imperador deu uma última missão à Máximo. Passar o poder para o Senado, e após cumprida essa tarefa ele poderia voltar para a sua família. Cômodo queria poder e glória. Sua loucura chegou ao ponto de querer dissolver o Senado, matar Máximo, prender intelectuais e tratar o povo a pão e circo. Enfim, estava indo contra todos os princípios que seu pai tanto lutou e preservou.
Assim, pode-se observar no filme que a força e a honra sempre acompanham os homens virtuosos que lutam por um ideal dando sentido a sua própria existência. Viver de acordo com a natureza, que é o mesmo que viver no respeito pela razão e de acordo com a virtude, era a vida ética nesse período.
REFERÊNCIAS
AURÉLIO, Marco.Meditações. Col. Os pensadores. v.Trad. Jaime Bruna. São paulo: Martins Fontes, 1979.

Édipo


Resenha: Édipo
A obra Édipo Rei, escrita por Sófocles (poeta e dramaturgo), é considerada uma das mais perfeitas tragédias da Grécia antiga. A obra conta a trágica história do príncipe de Corinto, Édipo, que teve seu destino traçado após receber uma previsão do Oráculo de Delfos, o qual previu que ele estava destinado a matar seu pai e casar-se com sua mãe.
Devido suas angústias pessoais de ser o possível assassino de um rei, julga Creonte e Tirésias com o desejo inconsciente de projetar sua culpa nessas duas pessoas, além de ir contra o sistema político da época. Édipo sentia-se angustiado ao perceber que metade de seu destino já poderia estar se cumprindo. Essa tragédia escrita por Sófocles, insere-se no contexto da época: ele pensa nas questões humanas, e seu herói é aquele homem forte, que se confronta entre a vontade e o destino, buscando razões, tentando entender a realidade para entender a si mesmo. Pode-se, assim, fazer uma correlação com o homem que tem ânsia na busca da verdade, mas ao encontrá-la, age de forma a tentar escondê-la ou mesmo afastar-se dela.
Édipo, certo de seus males, tenta sacrificar-se para que seus infortúnios pudessem ser purificados. No entanto a morte era pouco para pagar seus pecados. Portanto, furou seus olhos para que ficasse cego e impossibilitado de ver as coisas do mundo, como uma espécie de refúgio. Assim, diz Sófocles: "só o sofrimento dá ao homem a verdadeira energia da alma". No desenrolar da trama surge uma grande expressão de sentimentos e valores que permeiam a conduta da sociedade grega, além de lidar com alguns aspectos sombrios da realidade humana.
Édipo em um processo investigativo, em busca da realidade oculta de sua própria existência, representa um dos elementos psicológicos mais ricos presentes na trama. A busca incessante da verdade e a consciência diante da culpa são também componentes responsáveis pela grandiosidade da obra.
Sófocles enfoca bem a tristeza, a culpa, o suicídio, a verdade, enfim, fatores que dão à trama um caráter dramático, e despertam no leitor emoções, mexendo com seus sentimentos, o que seria de relevante importância para a psicologia entender como e porque tais sentimentos ocorrem.
O estudo desse mito, abriu inúmeras interpretações. Dentre todas as teorias a mais conhecida é a formulada pelo filósofo Sigmund Freud. Segundo ele, o complexo de Édipo é uma teoria caracterizada como uma fase do desenvolvimento psicológico infantil, mas que pode conduzir a perturbações que caso não sejam tratadas, se traduzem mais tarde, na idade adulta, em perturbações neuróticas.
A idade de 3 a 6 anos é muito particular, pois a criança constitui a sua identidade sexual. Para Freud, o "Complexo de Édipo", ocorre na época em que a criança está vivendo a sua fase fálica, durante a qual os genitais têm uma sensibilidade especial, substituindo as fases anteriores, oral e anal. Nesta faixa etária, a criança tem consciência e muita curiosidade e respeito dos órgãos genitais e das diferenças entre os sexos. Este processo é caracterizado por sentimentos amorosos do menino em relação à sua mãe, o que vem gerar, na criança, uma rivalidade em relação ao seu pai. Nessa fase, a criança passa por momentos conflituosos, em que se divide entre a afetividade que sente pelo pai e a rivalidade que este vem a oferecer-lhe. Durante esses conflitos, segundo a teoria psicanalítica, a criança, de maneira inconsciente, passa por um processo de identificação, onde ela incorpora e se comporta seguindo o comportamento do pai.
Assim, merece destaque especial a figura de Édipo, pelas inúmeras interpretações que a obra permite. Esta obra deixou vastas indicações para novas pesquisas e análises, servindo de inspiração para uma enorme gama de produções artísticas e também culturais.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Um olhar sobre a Filosofia


A filosofia é uma forma de pensar, que nos ajuda a entender melhor o próprio sentido de nossa existência. Sabemos, é claro, que também as ciências e as outras formas de conhecimento e de expressão cultural (arte, dança, poesia e música), nos ajudam a compreender o nosso modo de existir. Mas, ela tem um jeito particular e insubstituível de nos trazer esta compreensão, contudo, se faz necessário saber de seus conceitos e ir nos apropriando deles progressivamente para assim, nos familiarizarmos melhor com a filosofia.
Outro aspecto importante que me chamou a atenção neste primeiro ano de graduação, é saber fazer uma leitura dos textos filosóficos. Em um artigo escrito por Salma Muchail, ela enfatiza que “...ensina-se e aprende-se filosofia, ensinando-se e aprendendo-se a ler filosoficamente...”. E isto significa , em primeiro lugar, ler filosoficamente textos que são filosóficos, mas também e a partir daí, ler filosoficamente textos. Nesse sentido, a prática da história da filosofia- entendida como leitura filosófica de filosofias já constituídas- é , sem dúvida, uma valiosa via de acesso ao estilo de pensamento e de linguagem que configuram o universo filosófico.
Outro aspecto relevante ao ler um texto filosófico, é fazer três perguntas básicas a si mesmo: o que o texto diz, o que o texto me diz e o que eu posso dizer do texto. Com estas perguntas é possível selecionar qual será o critério ao fazer a elaboração de um trabalho. Portanto, essas são algumas sugestões para quem está iniciando nesse caminhar filosófico.

O nascimento da Filosofia


O objetivo deste trabalho visa percorrer uma panorâmica do nascimento da filosofia, mostrando aspectos relevantes aos períodos de sua formação, bem como apontando a preocupação do homem em querer responder suas indagações sobre o sentido do mundo.
É bastante difundida entre nós a idéia de que herdamos muitas coisas dos gregos. Dentre todas as contribuições gregas para a contemporaneidade há uma que se pode ressaltar: a filosofia. Esta palavra de origem grega significa amor, amizade (“philia”) pela sabedoria (“sophia”). A filosofia não surgiu simplesmente da mente brilhante de alguns sábios antigos, pelo contrário, ela é o resultado de todo um processo histórico-social que se desenvolveu no contexto econômico e político das cidades gregas antigas, chamadas de “pólis”.
Com a ciência histórica é possível afirmar que os primeiros habitantes da Hélade eram os povos nômades e guerreiros, que deixaram o norte da Europa e Ásia há aproximadamente 2000 anos a.C. e se fixaram na península balcânica. Dentre eles estavam os Aqueus, Jônios, Eólios e Dórios, que chegaram na região em busca de terras férteis em sucessivas ondas migratórias. Assim, ali se integraram aos povos já residentes ou os conquistaram. A partir de 1500 a.C., surgem pequenos reinos, núcleos urbanos independentes, organizados ao redor de grandes palácios fortificados. Das fontes históricas que relatam a origem dos gregos tem-se a Ïlíada e a Odisséia, duas epopéias atribuídas ao poeta Homero, o primeiro falando do conflito dos gregos com os troianos e o segundo versando sobre as aventuras de Ulisses para voltar à sua casa. Antes do nascimento da filosofia, os poetas tinham importância extraordinária na educação espiritual do homem grego. O desejo de formar e educar, o cuidado daquele que os gregos denomivam de “paideia”. Na Grécia homérica, a educação dos jovens foi a grande preocupação da classe dos nobres, daqueles que possuem o aretê, isto é, a existência necessária pela nobrezas de sangue, que se tornará, mais tarde, com os filósofos, a virtude, isto é, a nobreza da alma. Os adultos passam a educação no grupo social. Os poemas homéricos apresentam algumas peculiaridades que os diferenciam de poemas que se encontram na origem da civilização de outros povos, pois já contêm algumas das características essenciais para a criação da filosofia. Assim, Homero, ainda de forma mítica, procura apresentar a realidade em sua inteireza mostrando as causas e razões dessa realidade. Hesíodo com sua “Teogonia”, também foi muito importante para os gregos, pois relata o nascimento de todos os deuses. Ele faz uma explicação mítico-poética da gênese do universo e dos fenômenos cósmicos. Esse poema abriu o caminho para a posterior cosmologia filosófica, que, ao invés de usar a fantasia, buscará com a razão o “princípio primeiro” do qual tudo gerou. O mito era usado pela comunidade humana primitiva como elemento de explicação do mundo, que através de magia, ritual mágico traduziria a vontade dos deuses. Contudo, a filosofia dos gregos vai nascer da recusa de explicar o mundo somente pelo uso do mito. Os gregos, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foram reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa explicação inteiramente nova e diferente. Assim a filosofia incorpora o mito e dá um tratamento racional.
Alguns aspectos foram fundamentais para o surgimento da filosofia na Grécia no final do século VII e início do século VI a.C.. Nesse período a Grécia sofreu transformações sociais, políticas e geográficas consideráveis. Ela deixou de ser país predominantemente agrícola, desenvolvendo de forma crescente o comércio e o artesanato. As cidades tornaram-se florescentes centros comerciais, acarretando forte crescimento demográfico. O novo segmento de comerciantes e artesãos alcançou notável força econômica que se opôs à concentração do poder político, que estava nas mãos da nobreza fundiária. Portanto, com a luta que os gregos empreenderam para transformar as velhas formas aristocráticas de governo em novas formas republicanas, nasceram as condições, o senso e o amor da liberdade. O surgimento da escrita foi a causa mais determinante para o nascimento da filosofia, traduzir na palavra o significado do pensamento. É importante destacar que a navegação comercial só possibilitou o desenvolvimento econômico, mas também, o contato com civilizações orientais, como é o caso dos egípcios, dos persas, dos babilônios, dos assírios e dos caldeus, das quais retiram elementos para forjarem sua própria cultura. Além dos itens, já citados, a moeda, lei escrita, “polis” e situação geográfica também contribuíram para o desenvolvimento da filosofia. Mas, para o surgimento decisivo da mesma foi imprescindível a inexistência de dogmas, casta sacerdotal e livro sagrado. Percebe-se, então nesse contexto que a falta de uma Teologia, abriu brechas para o despertar da curiosidade sobre a verdadeira natureza das coisas e para a procura de respostas às questões sobre o mundo e a vida.
Nesse ambiente de grandes avanços e transformações no modo de vida urbano, surgiram questões para as quais as explicações mitológicas pareciam cada vez mais insuficientes. É nesse contexto, que a atividade filosófica surge, enquanto abordagem racional, se expressando inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à mitologia e à religião.
Esse período da história grega ficou conhecido como filósofos pré-socráticos. Esses filósofos da natureza propõem uma teoria da origem do mundo, do homem da cidade. Alguns vão explicar o mundo apelando para uma arqué, ou seja, o elemento constitutivo básico da qual a totalidade do universo seria constituída. A grande preocupação deles é que haja um princípio ordenador, que de ordem ao universo. Esses filósofos são chamados fisiólogos, pois buscam explicar a fisis, a natureza material. Assim, para Anaxágoras, o elemento primordial são as sementes que se encontram misturadas no caos e são em seguida, ordenadas pela Inteligência formando cosmos. Já para Anaximandro, esse princípio é o infinito; para Anaxímenes, é o ar; para Tales de Mileto, a água; para Heraclito, o fogo; para Parmênides, é o ser; para Empédocles, são quatro elementos em combinação: a terra, a água, o ar e o fogo; para Demócrito, era o átomo; e para Pitágoras era o número.
Para tanto, existe outro grupo de filósofos, pré-socráticos, cuja preocupação está mais voltada para a vida dos homens. São os sofistas, assim chamados, porque eram professores ambulantes da retórica e oratória e foram acusados por estarem mais preocupados em convencer pela persuasão, do que mostrar a verdade através de uma demonstração rigorosa do mesmo. Entre o sofistas se destacaram Górgias e Protágoras. Esse último entendia ser o homem a medida de todas as coisas, para ele tudo é relativo, não existe verdades e nem valores morais absolutos.
No final do século V e todo século IV a.C. haverá um período mais antropológico, quando a filosofia investiga as questões humanas (a ética, a política e as técnicas). Seus representantes são Sócrates, Platão e Aristóteles que retomam as preocupações de seus antecessores, criticando severamente os sofistas. Esses filósofos são os primeiros a criarem sistemas mais completos de filosofia, instaurando-a como metafísica, fornecendo os alicerces de toda a tradição filosófica do ocidente, contudo os romanos entram em cena e a filosofia grega se expõem a um mundo cosmopolita, período conhecido como helenismo. Porém nesse processo de expansão, a filosofia acaba de dissipando em pequenas escolas (estoicismo, epicurismo, ceticismo) perdendo a força de grandes sínteses. Enfim é nesse contexto helenístico, que a filosofia vai se encontrar com o Cristianismo.
Pode-se observar que os gregos acrescentaram uma nova dimensão ao pensamento humano. Para isso a filosofia teve que forjar para si uma linguagem, elaborar seus conceitos, edificar uma lógica, construir sua própria racionalidade.
REFERÊNCIAS
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. 7 edição. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil S.A, 1992.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992.
CHALITA, Gabriel.Vivendo a filosofia: São Paulo: Ática, 2005.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia pagã e antiga.Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003.

Comentário sobre o filme "Tróia"





Resenha do filme "Tróia".

Elenco: Eric Bena, Orlando Bloom, Brad Pitt, Diane Kruger, Rose Byrne, Peter O Toole, Sean Bean, Brean Cox.
Direção: Wolfgang Petersen
Gênero: Drama, Aventura.

A obra de Homero “Ilíada” está inspirada por um pensamento filosófico relativo à natureza humana e às leis que governam o mundo. Para tanto, as duas epopéias, Ilíada e Odisséia, representam para os gregos não só o símbolo da sua unidade cultural como povo, mais igualmente a expressão da sua religião e da sua visão do cosmos. Assim, pode-se observar no filme Tróia, dirigido por Wolfgang Petersen, toda essa época, em que a crença nos deuses era muito forte. Rei Príamo (Rei de Tróia), revele bem a reverência e respeito para com as divindades.

Percebe-se no desenrolar do filme todo um drama, a começar pelo amor entre o príncipe de Tróia( Páris) e Helena ( Rainha de Esparta), que irá desencadear uma guerra. Na obra de Homero, ele mostra bem o que a guerra representa: era a luta prodigiosa de muitos heróis imortais, da mais sublime arete.Heitor, com sua bravura e senso crítico mostra o lado bom da natureza humana. Respeito pelo pai, amor e zelo pela família e principalmente a defesa do país. Alguns destes princípios da natureza humana, como a honra, lealdade, coragem, e confiança serão bem enfatizados no filme. Heitor numa cena revela o código de honra dos troianos: “Honrar os deuses, amar a esposa e defender o país”. Nesse momento, observa-se os valores e a educação na qual era valorizada na época, segundo a epopéia de Homero.

Portanto nesse período da grécia antiga, começa a haver um germe da filosofia, uma explicação mais racional sobre o mundo e os deuses. O príncepe Heitor e Aquiles, começam a se questionarem sobre o sentido da guerra e se realmente os deuses estão olhando pelos mortais. Para tanto, Aquiles tem um outro perfil. A heroicidade sobre humana de um jovem que prefere em plena consciência a dura e breve ascensão de uma vida heróica à uma longa existência sem honra. Para Homero e para o mundo na nobreza desse tempo a negação da honra era em contrapartida, a maior tragédia humana. Agamenon para vencer a guerra precisava de Aquiles (líder dos mirmidões) e bravo guerreiro. Como Aquiles desejava não ser esquecido pela história e a almejava a glória, lutou contra os troianos.
Enfim, o diretor deixa bem claro no filme, que os dois reinos entram em guerra pelo poder, honra e glória. Trazendo esse filme para a nossa realidade, percebe-se que o poder quando não usado com consciência, discernimento e princípios, torna-se um perigo nas mãos de algumas pessoas. Exemplos temos na história da humanidade de nações inteiras exterminadas pela estúpida ambição do homem.
O poder perpassa toda a história da humanidade trazendo consigo guerras, ambições, mas também grandes reinos e feitos. Para Maquiavel, pensador do Renascimento, o poder é contestável e ameaçado. Para ele, a finalidade da política não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas a tomada e manutenção do poder, como sempre souberam os políticos. O verdadeiro príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o poder e que, para isso, jamais deve aliar-se aos grandes, que são rivais e querem o poder para si. Deve sim, aliar-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão e mando dos grandes.
Assim sendo, o poder reina soberano sobre o universo humano, sendo que são várias as teorias sobre ele, mas cabe a aqueles que o tem , saber qual a direção tomar.

Comentário sobre o filme "Odisséia"


Resenha do filme

Elenco: Isabella Rosselini, Armand Assante, Eric Roberts, Greta Scacchi, Geraldine Chaplin, Christopher Lee, Irene Papas. 150 min, Alpha Filmes.
Direção: Andrei Konchalovsky
Gênero: Drama

A Odisséia, romance épico de Homero, retrata as aventuras de Odisseu (Rei de Ítaca), na vastidão dos horizontes marítimos , onde retorna da famosa Guerra de Tróia com o objetivo de encontrar-se com sua esposa Penélope. Esta o espera por longos anos, a chegada de Odisseu. Quando a Odisséia descreve a existência do herói da guerra, as suas viagens aventurosas e a sua vida caseira com a família e os amigos, inspira-se na vida real dos nobres do seu tempo . Ela é , deste modo, a fonte principal para conhecermos o estado da antiga cultura aristocrática.
No filme Odisséia, o aventuroso rei, afirma-se como um homem que independe dos conselhos e vontades dos deuses. A todo momento, ele é desafiado pelos deuses, porém Odisseu persiste em seu objetivo de voltar à sua cidade e não se deixa subestimar-se. Valente e destemido, sempre desafiando os deuses, acaba por precisar deles no decorrer da epopéia . A partir desse poema épico, pode-se fazer uma reflexão a respeito do ser humano e seus limites. Ao observar nossa sociedade, encontraremos ela em crise, pois a descrença religiosa e a ausência de humanismo são fatores que afetam todo o cidadão. A sociedade tornou-se tecnocrata e desinteressada, de grande parte dos valores tão caros às gerações que nos antecederam, valores que constituíam a base dos conhecimentos necessários à idéia que se tinha então do que devia ser a cultura. O ser humano considera-se tão auto-suficiente, e esquece do outro, do bem comum. Assim, se começarmos a pensar numa sociedade mais humana, fazendo a nossa parte olhando para outro de uma forma mais solidária, talvez seja um caminho para se iniciar algo novo.